"Por quem os sinos dobram"

Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo;
cada homem é parte do continente, parte do todo;
se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor,
como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua;
a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade;
e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. (John Donne)


sinosFui em um velório.
Quando pequena, minha mãe era de opinião que assuntos de morte não deveriam intervir na vida de uma criança e até os dias de hoje, tinha sido poupada dessa tristeza. Por essa razão hesitei, chegando mesmo a pensar em não ir. Mas sou uma pessoa que absorve muito o que lê. Trechos de livros, filmes, poemas ecoam em minha mente.

Desse emaranhado de memórias, o poema de John Donne surgiu sem esforço. “Por quem os sinos dobram” é de tal profundidade dramática que nos faz mergulhar na alma de uma vida que está chegando ao fim e se vai contrariada deste mundo, vencida pela doença e pela inevitável, porém precoce, morte. Pelas palavras do poeta chegamos à cama do doente, e podemos sentir o que ele sente.

Ele vê o mundo sem precisar olhar. No esvair das próprias forças sente o vibrante pulsar da vida lá fora, indiferente à sua que chega ao fim. E o homem confinado em seu quarto, em seu leito de morte, em seu corpo moribundo, não sente medo da morte, mas a agonia do anonimato em meio à multidão que segue seu curso, imperturbável, como se uma só alma nada significasse diante das milhares que povoam o mundo.

Seus sentidos ainda pulsam de vida porque apesar de estar isolado, ele faz parte da multidão, é peça integrante da humanidade e, portanto de sua história. E se assim é, nada mais justo que a vida pare, que a multidão se quede ao toque dos sinos, em homenagem a uma parte do todo que é levado embora.

Foi assim que senti que precisava ir. Com uma ponta das emoções que acompanharam aquele rapaz nos quatro anos que lutou pela vida, a angústia dos seus pais, irmãs e amigos que se uniram e agarraram à força e à fé que surgem da união. E precisava ir porque eu sou parte da multidão que pode parar, que pode prestar homenagem, que pode mostrar para a mãe que chora uma dor inconsolável, que seu filho é importante porque é um pedaço de todos nós que se vai.

A vida no planeta segue inalterável não por que seja impiedosa, mas exatamente porque o não é. Nascer, viver e morrer é uma ordem de fatores imutável e inerente não só à vida de qualquer ser como também do próprio planeta que precisa seguir seu curso para manter a existência.

Nascimento, vida e morte é a tríade lei do Universo que por ser natural deveria reger e fundamentar a existência. Uma divina trindade que coloca a todos no mesmo grau de importância, sem distinção de raça, credo, cor, título e bens, porque escolhidos somos todos nós, habitantes fidedignos do Universo, para além da morte.

Os sinos dobram por cada um de nós.

Recanto das letras (A interpretação o poema)

Comentários

  1. adorei seu blog, faz um tempo que to aqui lendo e olhando. até catei uma frase ali do filme amor alem da vida e coloquei no MSN. só nao achei o "siga-me" aqui.
    queria acompanhar seu blog, ou melhor, ja me tornei seu fã.
    bjs

    ResponderExcluir
  2. oi, respondendo seu comentario. O unico roteiro que eu sigo e aprecio é o da minha vida. ahahahha. mas é interessante sua idéia, seja ela qual for.ahahaha; quanto mais estranha e diferente eu acho super legal.
    bjs

    ResponderExcluir
  3. Olá, Carla!
    Antes de amis nada: ADORAMOS SEU BLOG!!! Parabéns por ele!
    Muito obrigado pelo seu comentário em nosso blog! e não tem porque se desculpar, é sua opinião, seja ela longa ou curta, é sua opinião. É o que vc sente e pensa, acho que por isso, "os sinos (também) dobram"!
    Bjs!

    ResponderExcluir
  4. Belo texto amiga, gostei muito deste post! quero te desejar meus parabêns, abr World Cicle.

    ResponderExcluir
  5. Carla,
    Já vi que , você é amante das letras como eu. Adorei seu Espaço e vim aqui agradecer-lhe a visitinha. Obrigada, me senti muito honrada e feliz. Volte outras vezes.
    Beijão

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Este espaço é seu.
Deixe sua opinião ou se preferir conte uma história. Peço apenas que seja educado.
Obrigada, volte sempre.

Postagens mais visitadas deste blog

A "empatia" seletiva

Quando a tragédia bate à porta