A "empatia" seletiva

 A palavra empatia é definida como um sentimento em que um indivíduo consegue se ver do ponto de vista do outro, se identifica com outro, sente as mesmas necessidades e dificuldades. Pesquisando sobre o termo, descobri que, por conta do cenário atual, onde tanto se discute sobre minorias e inclusão, a palavra empatia é usada à exaustão, muitas vezes de forma errônia o que a jogou na lista de buzzwords. Mas enfim, meu intento passa longe dessas questões. Eu, particularmente, tenho usado a palavra relacionada a um cenário bem particular, já que foi um termo surgido naturalmente em minhas reflexões e, certamente, o mais fiel para o caso. 

O termo composto, 'empatia seletiva', surgiu para mim, como uma conclusão lógica, da reflexão de situações e, claro, a necessidade mórbida da nossa sociedade condicionada a tudo querer rotular. E então descobri que esse mesmo termo é usado para designar a empatia de grupos, como pessoas da mesma etnia, do mesmo grupo social, etc. E aqui o termo me parece mal usado, porque é tipo um corporativismo, e o corporativismo é uma política de interesses mútuos de um grupo. 

A empatia seria uma característica inerente ao ser humano. Li que a empatia é uma inteligência que o ser humano pode desenvolver, mas eu iria mais longe e diria que além de ser uma característica inerente ao ser humano, está presente também nos animais irracionais, tanto selvagens como domésticos. Sei que muita gente questionaria isto. Acontece que não existe estudo que conteste tal proposição. Quanto ao ser humano, reafirmo que já nasce empático. 

Toda essa reflexão surgiu quando o comportamento de certas pessoas começou a me incomodar, particularmente uma com fama de "bom" que sempre demonstrou muita compreensão e solidariedade por todos. Mas, por alguma razão, comecei a observar com mais atenção e percebi que o indivíduo em questão, ignora pessoas que lhe são muito mais próximas e com quem tem maior grau de intimidade. Ora, vamos concordar que, por força das circunstãncias, seria um comportamento natural essa pessoa mostrar, pelo menos, o mesmo grau de reconhecimento que demonstra para com os demais.

Foi assim que me vi refletindo sobre a palavra empatia e seu significado e buscando clareamento sobre a mesma. Neste caso específico, devo dizer que assim como outras pessoas, sempre achei aquela empática e a admirava inclusive, e também, por essa característica de seu caráter. Mas então comecei a questionar intimamente se essa pessoa seria realmente o ser virtuoso que todos admiravam. Quanto a mim, não vejo, nem sinto mais da mesma forma. A pessoa claramente usa, digamos, "empatia" seletiva, e além do mais, apresenta senso crítico apurado em relação ao comportamento das mesmas pessoas que ele ignora nas suas ações solidárias, e prejudica, chegando a fazer críticas públicas como se quisesse sinalizar virtudes em si mesmo, e isto foi o que mais me chocou. Eu nunca havia percebido tal comportamento nessa pessoa. Meu conceito sobre empatia, e mediante tais observações e reflexões, se apurou diante do leque de exemplos e definições equivocadas que achei na internet. 

A empatia seletiva seria um fenômeno em que as pessoas mostram mais compaixão e simpatia por algumas pessoas do que por outras. Seria uma empatia direcionada àqueles com quem têm uma relação mais próxima ou semelhantes a si mesmos. Ora, para mim, não existe nada mais anti-empático que tal cenário. Nestes casos estamos falando de interesses próprios, posto que quando se defende um interesse de grupo, está-se fortalecendo os próprios interesses. Ora, empatia refere uma emoção profunda, inconsciente, inerente, que leva a pessoa a agir em prol de outra, sem qualquer interesse pessoal envolvido. Isto é ser empático com a dor do seu semelhante, empático com o sofrimento de qualquer ser vivo. Eu não vejo uma pessoa que maltrata animais com capacidade de empatia, assim como a pessoa que estende a mão a outra, mas ignora a própria mãe, irmão, esposa, filhos nas mesmas circunstancias. A empatia é avessa a querelas estúpidas, é uma característica do DNA humano e PONTO.

Voltemos aos exemplos achados em minhas incursões pela internet.

Uma pessoa pode ser mais empática com um amigo próximo que está passando por um momento difícil do que por um desconhecido que está enfrentando a mesma situação. Da mesma forma, uma pessoa pode ter mais empatia por alguém que compartilha sua cultura, religião ou visão de mundo do que por alguém com uma perspectiva diferente. Desculpe quem chegou a tais conclusões. Empatia é algo que te toca fundo, te emociona. Não se direciona empatia a alguém porque é da mesma cultura. Empatia, e aqui serei repetitiva, é direcionada ao ser em si, e não a determinadas particularidades ou características da pessoa, do animal. Eu compararia empatia com altruísmo. Ninguém sai comprando um lanche para outro alguém que implora por comida, porque é branco ou negro, mas porque sentiu profundamente o sofrimento daquela pessoa, daquele ser. Muitas vezes, em tal situação, aquela boa alma, se parasse para pensar, sequer poderia ter gasto aquele dinheiro do lanche, mas está aí o diferencial, a empatia é irracional, é reação, emoção pura. É a empatia que leva o homem a se jogar no rio para salvar o seu semelhante, ou o animal em perigo. Quantas cenas destas vemos em vídeos que circulam em looping pela Internet?

Sim, a empatia pode ser construída, desenvolvida, mas a pessoa precisa ter um certo capital dentro dela, nem que seja uma semente. Muitas vezes observamos numa escola, num parque infantil, até em irmãos, a empatia aflorada já em crianças muito pequenas, e a ausência de um comportamento empático em outras crianças da mesma idade, do mesmo ambiente em que são criadas. Isto não significa que essas crianças não sejam empáticas, mas sim que possuem tal característica em menor grau, e que pode ainda não estar aflorada.

Acredito que a empatia possa sim ser desenvolvida com ferramentas e a iniciativa de pais, educadores, políticas educacionais, e, claro, através da arte. É assim que se pode ajudar a construir pontes entre grupos, culturas diferentes e acordar a empatia adormecida, mas presente no DNA humano, e desta forma, promover a compaixão e a solidariedade a nível mundial. Deveria ser este o objetivo, construir, desenvolver seres humanos, a um nível de excelência emocionalmente inteligente para chegarmos ao nosso potencial máximo, a superação do homem pelo homem, o transhumanismo emocional, e não físico, robótico, tecnológico... Bizarro!


 

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