Defina responsabilidade
"Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer."Albert Camus
Acho engraçado para não dizer irônico que sempre associemos responsabilidade com idade. Pais tendem a sobrecarregar filhos mais velhos com cobranças e isso, diga-se, desde muito cedo. Quando era criança ficava
bastante revoltada quando minha mãe falava “Porque vocês não são como o vosso irmão?” Lembro que chegava a sentir raiva, mas quando amadureci, percebi que, na verdade, meu irmão arrastou uma cruz durante anos. Muito cedo precisou assumir a responsabilidade do rótulo que lhe enfiaram pelas goelas, a de menino prodígio. Uma criança, um adolescente, um adulto que não teve o direito de errar, de cair na farra, de sequer cometer os pecadilhos da infância.
Pessoas crescem com o sentimento de embuste, de fiasco, a ponte para o fracasso, para os vícios e assim como no passado, seguem ocultando e disfarçando a própria personalidade, sem que esta seja ainda muito clara para eles mesmos. É preciso entender que para estas pessoas acostumadas, desde tenra idade, a representarem o papel que lhes impuseram, a quebra dos laços e padrões familiares, a descoberta da individualidade e a posse da própria personalidade, torna-se um processo bem mais complexo que para a maioria.
É bem mais comum, do que se imagina, um adulto destes ter uma crise de identidade em idade madura e descobrir, a duras penas, que a vida não é um jogo previsível com um manual que possa ser consultado. São indivíduos que seguem uma linha reta, com base nos padrões convencionais e seguros que definiram para eles um dia. E, porque a vida é assim, quando perdem as rédeas, sentem-se incapazes de resolver a situação, ou insistem em aplicar os padrões para descobrirem, o que nem sempre acontece, de cabeçada em cabeçada, que há outros caminhos para se resolverem questões e entraves.
O ponto é que todos sabemos que a chave do carro, muitas vezes, não pode ser colocada na mão do jovem, simplesmente porque ele tem dezoito anos, ou é o primogênito. Por vezes é o mais jovem que mostra maior preparo para receber essa responsabilidade. No entanto, e como a nossa sociedade é abarrotada de contradições, a quebra dos padrões está por todo o lado.
Assistimos, com muito mais freqüência do que percebemos, adultos delegando responsabilidades. Mães colocam crianças pequenas, que deveriam estar brincando despreocupadamente, a cuidar dos irmãos menores, lembrando ainda que hoje tornou-se comum entregar a educação das crianças à empregada ou babá e à escola; chefes arrumam mil e uma razões ou desculpas para sobrecarregarem seus subalternos com incumbências que são, ou deveriam ser, exclusivamente suas; políticos que não assumem a alçada efetiva de seus cargos e quando são chamados à responsabilidade, esquivam-se com o nome da secretária, do assistente, como é comum acontecer nas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito); eclesiásticos escondem-se atrás do sacerdócio, para fugirem à paternidade, ou até mesmo a crimes. Temos, pelo mundo, toda a sorte de patifes que chegam a culpar o comprimento das saias ou o tamanho dos decotes para justificarem atos espurcos.
Tudo isto é feito sem culpas, nem desculpas, muitas vezes sequer são atitudes conscientes, o que por si já denota a ausência de responsabilidade e, quiçá, demência. Mas então o que significa responsabilidade? A definição no dicionário não oferece surpresas: "a obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas." Isto significa, por exemplo, que ao nos apresentarmos como candidatos a qualquer ofício, voluntários para qualquer ação, enfim compromissos que envolvem relações ou bens, estamos assumindo responsabilidades, assumindo para o outro, a entidade, que temos capacidade, princípios e honra para levar a cabo a missão que aceitamos. Isto se chama uso de valores morais.
Idade e responsabilidade são, portanto, fatores que independem um do outro. Assim, os 35 anos exigidos como pré-requisito para um candidato a Presidente da República, é exigência oca, como, aliás, estamos todos cansados de saber. Acho importante abrir um parêntesis na questão da magistratura, não no que concerne à idade, quesito irrelevante para o cargo de juiz, mas no exercício da profissão. Diferentemente do processo de decisão em um Congresso, que acontece coletivamente, certas decisões do magistrado são individuais. Fato assustador! Entende-se que juízes devem ter atributos de natureza ética, psicológica, emocional dos mais elevados. Para qualquer decisão eles precisam subtrair-se aos interesses em causa -, abster-se de julgar com base em valores e padrões pessoais.
Ora é sabido também, que em se tratando de seres humanos, não se pode exigir posturas ou performances beirando a santidade, assim até o bom senso pediria que o exercício da magistratura seguisse os padrões de um Congresso com um grupo de pessoas decidindo o destino de vidas humanas e não uma só cabeça. Na vara de família, por exemplo, o juiz tem o poder de decisão na vida de uma criança. Na maioria das vezes estas decisões refletem muito mais os valores do próprio juiz que os interesses das crianças, como deveria ser de fato.
Observando o cenário à nossa volta, percebe-se que a palavra responsabilidade, de significado e impacto banalizados, tem relevância destacada na organização da sociedade como um todo. É preciso ampliar o uso da palavra, cobrar deveres do cidadão e intensificar a cobrança para indivíduos que ocupam cargos públicos. O político deve ser sim, chamado à responsabilidade e à disciplina, tanto quanto o menor. No entanto, se pegarmos um jornal, dificilmente vemos esta palavra referenciada fora do universo da juventude. Isto porque se faz subentender que certos valores são inerentes a um adulto, mais ainda, quando se trata de entidade pública, como um presidente ou juiz. Trata-se de um equívoco grosseiro que tanto pode estar escondendo interesses políticos e elitistas como exacerbando vaidades e falsas grandezas, num cenário declarado de enfermidade moral na sociedade política brasileira, onde homens públicos defendem com falsas honras, cargos e regalias, mesmo diante da evidência de suas tramóias e patifarias, resguardadas à sombra da impunidade e na omissão de uma sociedade desunida e desesperançosa na justiça.
Acho engraçado para não dizer irônico que sempre associemos responsabilidade com idade. Pais tendem a sobrecarregar filhos mais velhos com cobranças e isso, diga-se, desde muito cedo. Quando era criança ficava
bastante revoltada quando minha mãe falava “Porque vocês não são como o vosso irmão?” Lembro que chegava a sentir raiva, mas quando amadureci, percebi que, na verdade, meu irmão arrastou uma cruz durante anos. Muito cedo precisou assumir a responsabilidade do rótulo que lhe enfiaram pelas goelas, a de menino prodígio. Uma criança, um adolescente, um adulto que não teve o direito de errar, de cair na farra, de sequer cometer os pecadilhos da infância.
Pessoas crescem com o sentimento de embuste, de fiasco, a ponte para o fracasso, para os vícios e assim como no passado, seguem ocultando e disfarçando a própria personalidade, sem que esta seja ainda muito clara para eles mesmos. É preciso entender que para estas pessoas acostumadas, desde tenra idade, a representarem o papel que lhes impuseram, a quebra dos laços e padrões familiares, a descoberta da individualidade e a posse da própria personalidade, torna-se um processo bem mais complexo que para a maioria.
É bem mais comum, do que se imagina, um adulto destes ter uma crise de identidade em idade madura e descobrir, a duras penas, que a vida não é um jogo previsível com um manual que possa ser consultado. São indivíduos que seguem uma linha reta, com base nos padrões convencionais e seguros que definiram para eles um dia. E, porque a vida é assim, quando perdem as rédeas, sentem-se incapazes de resolver a situação, ou insistem em aplicar os padrões para descobrirem, o que nem sempre acontece, de cabeçada em cabeçada, que há outros caminhos para se resolverem questões e entraves.
O ponto é que todos sabemos que a chave do carro, muitas vezes, não pode ser colocada na mão do jovem, simplesmente porque ele tem dezoito anos, ou é o primogênito. Por vezes é o mais jovem que mostra maior preparo para receber essa responsabilidade. No entanto, e como a nossa sociedade é abarrotada de contradições, a quebra dos padrões está por todo o lado.
Assistimos, com muito mais freqüência do que percebemos, adultos delegando responsabilidades. Mães colocam crianças pequenas, que deveriam estar brincando despreocupadamente, a cuidar dos irmãos menores, lembrando ainda que hoje tornou-se comum entregar a educação das crianças à empregada ou babá e à escola; chefes arrumam mil e uma razões ou desculpas para sobrecarregarem seus subalternos com incumbências que são, ou deveriam ser, exclusivamente suas; políticos que não assumem a alçada efetiva de seus cargos e quando são chamados à responsabilidade, esquivam-se com o nome da secretária, do assistente, como é comum acontecer nas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito); eclesiásticos escondem-se atrás do sacerdócio, para fugirem à paternidade, ou até mesmo a crimes. Temos, pelo mundo, toda a sorte de patifes que chegam a culpar o comprimento das saias ou o tamanho dos decotes para justificarem atos espurcos.
Tudo isto é feito sem culpas, nem desculpas, muitas vezes sequer são atitudes conscientes, o que por si já denota a ausência de responsabilidade e, quiçá, demência. Mas então o que significa responsabilidade? A definição no dicionário não oferece surpresas: "a obrigação de responder pelas ações próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas." Isto significa, por exemplo, que ao nos apresentarmos como candidatos a qualquer ofício, voluntários para qualquer ação, enfim compromissos que envolvem relações ou bens, estamos assumindo responsabilidades, assumindo para o outro, a entidade, que temos capacidade, princípios e honra para levar a cabo a missão que aceitamos. Isto se chama uso de valores morais.
Idade e responsabilidade são, portanto, fatores que independem um do outro. Assim, os 35 anos exigidos como pré-requisito para um candidato a Presidente da República, é exigência oca, como, aliás, estamos todos cansados de saber. Acho importante abrir um parêntesis na questão da magistratura, não no que concerne à idade, quesito irrelevante para o cargo de juiz, mas no exercício da profissão. Diferentemente do processo de decisão em um Congresso, que acontece coletivamente, certas decisões do magistrado são individuais. Fato assustador! Entende-se que juízes devem ter atributos de natureza ética, psicológica, emocional dos mais elevados. Para qualquer decisão eles precisam subtrair-se aos interesses em causa -, abster-se de julgar com base em valores e padrões pessoais.
Ora é sabido também, que em se tratando de seres humanos, não se pode exigir posturas ou performances beirando a santidade, assim até o bom senso pediria que o exercício da magistratura seguisse os padrões de um Congresso com um grupo de pessoas decidindo o destino de vidas humanas e não uma só cabeça. Na vara de família, por exemplo, o juiz tem o poder de decisão na vida de uma criança. Na maioria das vezes estas decisões refletem muito mais os valores do próprio juiz que os interesses das crianças, como deveria ser de fato.
Observando o cenário à nossa volta, percebe-se que a palavra responsabilidade, de significado e impacto banalizados, tem relevância destacada na organização da sociedade como um todo. É preciso ampliar o uso da palavra, cobrar deveres do cidadão e intensificar a cobrança para indivíduos que ocupam cargos públicos. O político deve ser sim, chamado à responsabilidade e à disciplina, tanto quanto o menor. No entanto, se pegarmos um jornal, dificilmente vemos esta palavra referenciada fora do universo da juventude. Isto porque se faz subentender que certos valores são inerentes a um adulto, mais ainda, quando se trata de entidade pública, como um presidente ou juiz. Trata-se de um equívoco grosseiro que tanto pode estar escondendo interesses políticos e elitistas como exacerbando vaidades e falsas grandezas, num cenário declarado de enfermidade moral na sociedade política brasileira, onde homens públicos defendem com falsas honras, cargos e regalias, mesmo diante da evidência de suas tramóias e patifarias, resguardadas à sombra da impunidade e na omissão de uma sociedade desunida e desesperançosa na justiça.
Muito bom o texto, estou seguindo o blog
ResponderExcluirbjs
...traigo
ResponderExcluirsangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
TE SIGO TU BLOG
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
AFECTUOSAMENTE
MUSICA DO UNIVERSO
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE LOVE STORY, CABALLO, LA CONQUISTA DE AMERICA CRISOL.
José
ramón...
Show de bola seus comentários. Que tal uma troca de link com Talento da Terra. Abraços
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