Indulgência com a ignorância
“Se voce andar até onde não mais consegue, pare, pense e saberá que a ignorância é a única coisa que lhe resta.” Aristóteles
Quando olhamos criticamente em volta, a sensação é de que a humanidade chegou ao limite da ignomínia. Basta ligar a TV, acompanhar as notícias cotidianas para sentirmos o caos. Para muitas pessoas a própria vida já é confusão suficiente, para certos religiosos estamos chegando ao fim do mundo e os sinais estão à vista, é a ira de Deus, dizem.
Jesus resumiu os 10 mandamentos em apenas dois: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, por sua vez reduzidos a um na palavra de Sto Agostinho “Ama e faz o que quiseres”. É a evolução desde Moisés.
Incontestavelmente os sete pecados capitais e suas adversárias, as virtudes -, a soberba (humildade), a ira (paciência), a inveja (caridade), a avareza (generosidade), a gula (temperança), a preguiça (disciplina) e a luxúria (castidade) -, poderiam ser resumidos numa só palavra: ignorância! Uma debilidade moral comum a todos os seres vivos. Se o ser humano conhecesse a sua força, a sua potencialidade, a razão e necessidade de sua existência, o mal que freqüentemente o espreita e possui, não teria espaço para proliferar, daí a utilidade dúbia da ignorância como mal e purgante, irônico e impar caminho da luz.
É essencial reconhecer, como Sócrates, que o saber é o maior dos bens, é ele a luz para os mistérios que todos buscamos, ainda que seja uma trilha de dor. Estudar é suar, diz o velho ditado, e assim é de fato, a escola da vida é para a grande maioria um purgatório de gritos e lamentos. Fome!... Miséria!... Violência!... A ignorância serve a todo o tipo de malandro, tirano e mártir. Expurgá-la é trabalho e luta individual, mas sair pelas trevas em busca do Graal é para poucos, coisa de herói, dizem, ainda que os sábios de todos os tempos repitam tranquilamente que a iluminação está ao alcance de qualquer um.
Segundo os mesmos sábios, fomos todos igualmente munidos, ou abençoados, com as mesmas armas: o gênio, a memória e a vontade, transmitidos pela sabedoria, força e beleza de Deus, devendo tais predicados refletir-se nas ações dos mentores políticos, salvaguardando-se desta forma a grandeza, a prosperidade e a eternidade das nações com base em três princípios primordiais: justiça dos governos, sabedoria das leis e pureza dos costumes.
Mesmo o indivíduo mais virtuoso necessita de vigília constante para que a tentação não o corrompa novamente. O poder do homem sobre o homem tem-se mostrado a pior das armadilhas, um ciclo sem fim que sombreia a história da humanidade e uma grande barreira para o progresso espiritual, para os frutos das intenções sadias e dos atos heróicos em todas as épocas e recantos da terra.
A consciência de um político parece estar diretamente ligada ao usufruto material do seu cargo, cuja existência e função maior, a de representar e servir o bem comum é perpetuado pela conjectura histórica de que a população ignorante necessita de liderança capacitada, sadia e ética. A fórmula seria proveitosa se tal tutela viesse apadrinhada de virtudes, o problema é que é na ignorância da população e na própria que pretensos líderes do bem, encontram as condições ideais para darem vazão a vícios pessoais, à ânsia de poder e fortuna fácil, a glórias pré-fabricadas, a governanças, com sabor de reinados, alimentadas pelo nepotismo descarado.
O que persiste são governantes e governados, duas forças declarada e estranhamente antagônicas, se auto-beneficiando e sustentando dos mesmos males em diferentes perspectivas, regalos e desníveis de conhecimento. Não há mais classes, apenas grupos de indivíduos – políticos, capitalistas, religiosos mal intencionados, crédulos, cínicos e a turma do “nem fede nem cheira” – castradores do amor próprio e mutiladores de um potencial de virtudes, porque a boa vontade esmorece diante da frieza da iniqüidade. Homens de inúmeras máscaras, criando e mantendo um ciclo infinito de interdependência entre poder e carência, ignorância do mal e ilusão do bem.
Existem assim como que dois mundos, um fantasioso, virtual, existente na mente de pessoas iludidas por falsos desejos e virtudes e outro real, calculista, degenerado, hipócrita e sujo e, seguramente, mais estúpido. Uma cadeia alimentar artificial de parasitas e predadores que embrutecidos pela gula de riquezas, poder e falso conhecimento desequilibraram a ordem natural na biosfera.
Entretanto quando nos detemos a analisar a nossa própria história, das pessoas em volta e da humanidade, percebemos que há uma sequência comum de fatores apontando para a mesma direção. O caos revela-se como ordem implícita e inteligência sutil guiando o homem e o cosmos num encadeamento lógico e harmonioso.
E porque na natureza tudo é transformado, a ignorância ressurge como componente chave nessa alquimia aparentemente enigmática que liga criador e criação. O momento mágico é apenas um: quando o homem nega a estupidez, o ouro dos tolos. O seu caminho se ilumina, o mundo avança, trombetas ocultas tocam, cálices tilintam em silenciosa harmonia cósmica, abrem-se alas para a jóia mais pura e rara, chamada de pedra filosofal - codinome da SABEDORIA.
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A Música do Universo é a melhor que existe, pena que são poucos os homens que conseguem ouvi-la.
ResponderExcluirAdorei seu espaço.
Foi bom passar por aqui.
Deixo-te um abraço
Muito Obrigada, Malu! Obrigada por escutar a música. Uma alma que escute já é bastante neste mundo onde todo mundo corre cego e surdo. Volte sempre e sempre.
ResponderExcluirOi Carla,
ResponderExcluirLi com atenção as suas palavras. Assim como outros post daqui. Como me senti em casa!
Fiquei relacionando com um telefonema que recebi hoje de uma jovem completamente estressada. Com calma e muita atenção, consegui ir falando com ela até chegarmos ao ponto de que ela vivia uma descoberta: a banalização dos sentimentos. E era isto que a esgotava.
Eu a respondi dando "bem vinda ao mundo do povo mais velho". Este é o mundo dos adultos, completei. Uns tem a sensibilidade de sentir "algo amargo" na boca, outros incorporam o amargor como parte da vida. Mas não é. E é bom não se acostumar. Porém, todas as escolhas tem um preço. A gente tem que descobrir por qual delas esta disposta a pagar. E é como você diz: "a boa vontade esmorece diante da frieza da iniqüidade." Portanto, é preciso ter força.
Grande abraço para vc!
Prazer ter vc aqui, Valéria Mello. Adoro, claro, que achem meu blog na blogosfera, o que é difícil, já que eu ainda não fiz um trabalho de divulgacão , mas gosto mais ainda quando é alguém conhecido, que admiro e encontra afinidades nos meus textos, que surgem em reflexões sobre mil assuntos relacionados com a nossa humanidade. É a reflexão que alimenta a fé em mim mesma e no ser humano em geral, que me lembra que é preciso ter esse olhar indulgente para com a ignorância. Claro que é um exercício diário e tem situações em que o esforço é enorme, mas tem realmente ocasiões em que a boa vontade esmorece diante da frieza da iniquidade. Recorro constantemente à sabedoria de Jesus “Mantende-vos vigilantes e orai continuamente, para que não entreis em tentação.” (Mat. 26:38, 41). Grande abraço!
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