Eu queria lhe dizer...

"Permita-se rir e conhecer outros corações. Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a viver a sua própria vida." Mário Quintana

Amigo, você que lê eventualmente meu blog, que tropeça neste espaço, e até pára para ler algo que atraiu a sua atenção...
Você que se sente perdido, parado numa encruzilhada, sem saber que caminho tomar;
Você que é religioso, temente a Deus e procura proceder em conformidade com seus ensinamentos, achando que está agradando o Senhor, mas que se desespera porque as bençãos que aguarda não chegam;
Você que foi a vida inteira um homem/mulher de bem, obedeceu pai e mãe, estudou, trabalhou, criou família, tornou-se pessoa respeitável, um modelo para a sociedade, mas descobriu-se um dia um indivíduo infeliz, se olha no espelho e não reconhece o rosto maduro;

Você, cuja vida foi uma sucessão de tropeços, passando a vida a culpar Deus, o mundo, o ex, os filhos, a sogra, e a má sorte, sabendo no seu íntimo, que não havia culpados;
Você, que se diz abandonado por Deus desde o nascimento, que chorou silenciosa em muitas madrugadas todas as desgraças da vida e se pergunta porque foi excluída das graças;
Você, que se sente um dos escolhidos de Deus, que nasceu e cresceu com todas as bençãos e fala que se Deus lhe deu privilégios, e negou aos outros, é porque é merecedor e portanto não tem qualquer responsabilidade sobre a desgraça alheia;
Você, que se sente esquecido pelos seus, cansado e doente, que acha que a vida nada mais tem a lhe oferecer, e que é chegada a sua hora;
Você, que pára todo o dia na varanda de seu apartamento e olha hipnotizado o asfalto lá embaixo, sentindo que braços e vozes invisíveis o chamam convidativos;
Você, que está deitado na cama do hospital, sentindo a proximidade da morte, e escuta a vida que pulula pra lá das janelas, e clama a Deus por mais uma oportunidade;
Você, jovem, que se sente só no mundo e tão cedo já perdeu a vontade de viver;
Você, mãe, que olha o sorriso singelo de seu filho, tão pequeno, indefeso, o corpo fragilizado, lutando contra a doença que, malévola, sem compaixão, suga a vida de seu menino, um anjo a quem roubaram o direito a uma vida de bençãos;
Você, pai, amargo, revoltado, que viu seu filho partir, um menino que era só alegrias, cheio de sonhos, que prometia um futuro de vitórias, e perdeu a vida para a violência insana...

Saiba, meu amigo, que você não está só na sua dor. Saiba que tem muitas almas genuinamente boas no mundo, muitas delas passaram e passam pelas mesmas provações que você e lutaram consigo mesmas para se reerguer.
Apesar de iguais externamente, somos diferentes por dentro, nossas capacidades emocionais, esse mix de emoções que somos aptos a sentir, operam em diferentes variações, gerando como que equações com dados distintos. É o resultado dessa equação que vai gerar a reação de cada um às situações que se deparará no decorrer da vida. Um exemplo simples que todo o mundo já deve ter percebido, é que há pessoas muito racionais que diante da morte, resolverão assuntos práticos que a ocasião exige que sejam tratados, como avisar os parentes, contratar a funerária, etc. Já outras entregam-se tanto à dor que perdem o senso da realidade. Quem pode dizer que uma sofre menos que a outra? Simplesmente as equações das duas são diferentes. As lágrimas que caem sem freio dos olhos de uma, são internalizadas na outra, silenciosas, escondidas, noturnas. Isto porque há indivíduos que são instintivamente protetores, se obrigam a serem fortes diante da fragilidade dos demais. 
Assim, se dentro do cérebro há toda uma matemática invisível, gerando dados constantes em milionésimos infinitesimais de segundos, externamente há reações, aparentemente instintivas, aparentemente automáticas, mas sumamente viscerais. Vivemos inconscientes desses processos mentais, mas é assim que dados, toda a espécie de informações que entram no nosso cérebro, são operados sem o nosso controle racional. Operações cognitivas inconscientes que formam nossas capacidades intelectuais e emocionais. 
É assim, meu amigo, que nesse mar de personalidades, você certamente encontrará refúgio, tanto gente que sentará com você e juntará as próprias lágrimas às suas, como as que te ajudarão a retomar o lado prático da vida. Ambas serão empáticas e solidárias em diferentes níveis. Muitas vezes, serão os estranhos que te surpreenderão, justamente porque por vezes a família, na ênfase de ajudar, faz a pessoa voltar à primeira infância, dependente nas mais simples tarefas e questões, tornando-se desta forma intrusiva na sua vontade de ser útil, de cuidar do ente querido, sem freios, sem senso. Uma ajuda ineficiente, mais prejudicial que saudável. O ditado de que santo de casa não faz milagres, é muito mais verdadeiro do que se imagina.
Minha avó, viúva, morava sozinha em sua velha casinha simples, à beira mar, numa pequena cidade turística de Portugal. Uma doença hereditária levou-a à cegueira. A comunidade onde morava prontamente criou uma rotina semanal, pegavam-na para ela fazer suas compras de supermercado, pagar contas no banco, e ainda levá-la a passeios à beira-mar pelo calçadão durante o verão. Seus filhos moravam em outra cidade, bem próxima. Quem a visitava sabia que, dentro de casa, ela era auto-suficiente, caminhava ligeira pela casa onde vivera boa parte da vida. A cegueira não restringia sua rotina de cozinhar, cuidar da casa e ligar a TV para escutar a novela. Ela conhecia cada canto, a disposição dos móveis, o lugar dos pratos, a sua horta, o varal. Era feliz! Entretanto os filhos se preocupavam, e um dia acharam que era hora de cuidarem dela. A partir daí, minha avó ficou totalmente dependente e confinada num quarto, porque a casa maior, praticamente desconhecida, com mais gente e móveis, cuja disposição ela não tinha familiaridade, lhe deu insegurança. O medo de cair era tal, que ela parou de ir à rua. Tirando a cegueira, minha avó era uma mulher forte, saudável, uma noite ela deitou pra dormir e não acordou mais. Tenho para mim, que se tivesse permanecido na sua casinha, teria vivido mais, mas o excesso de zelo fez com que meus tios a tirassem de seu canto, sem que percebessem que lhe tiraram praticamente a vida. Minha avó nunca se queixou, nunca lamentou o fato, era de sua natureza não contrariar ninguém, nem se fazer de vítima. Ali ficou no seu quarto onde recebia todo o mundo, e contava velhas histórias de família aos netos e bisnetos.
Assim, amigo, não se sinta só. Busque ajuda, entre na Internet, procure tudo e todos que podem ajudá-lo a suplantar a dor, qualquer que seja ela. Eles estão por aí, pelo mundo, talvez até bem perto de você, porque, muitas vezes, a mão que se estende em nossa direção é alguém a quem você nunca deu atenção ou pouco tomou conhecimento, alguém que esconde uma vida de muitos dissabores e, por conta disso, sabe como ninguém o que você está passando. Grandes amizades e romances nascem nestas ocasiões.   E mais uma vez, lembro aqui de minha avó, que tentando consolar-me da tortura diária que era ir para a escola, por ser uma vítima de bullying, ela me falava que as pessoas eram essencialmente boas. E eu, do alto de meus 14 anos pensava: "Tadinha da'vó, tão ingênua! Ela não sabe que a maldade existe." Precisei de muitos anos para assimilar tal informação, o que me tem ajudado desde então, a lidar com a vida e as pessoas. 

Meu amigo, a bondade e a solidariedade humanas são infinitas e estão em todo o canto, até mesmo para os que sentem que não precisam de ninguém. Lembre-se, você mesmo, de estender a mão ao próximo, de emprestar seu ombro, porque na vida não há escolhidos, do mais rico em bens materiais até ao mais espiritualmente pobre, somos todos importantes, estamos todos nesta arca gigantesca que é a vida, o Universo!



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