O valor de cada um - A insignificância do ser

"- Mas ele não é um cara ruim?” Perguntou o garoto surpreso, ao escutar os adultos em volta comentando sobre ajudar o vizinho que cometera um erro e se encrencara com a policia.“- Sim, mas ele NÃO é só isso.” Respondeu o avô. (Blue Bloods, série policial, canal Liv)

O diálogo acima ecoou dentro de mim e me levou à reflexão.
Ninguém é "só isso"!
Ninguém é só o dia que amanheceu mal humorado, ninguém é só o ato que cometeu num momento de estresse ou fraqueza, ou a palavra dita em má hora; ninguém é somente o fracasso ou o sucesso, a depressão, o vício, a crise, a conta bancária, a cultura, a fama, a religião, o partido político, a doença, a idade, o gênero, a raça, ... Pessoas são muito mais complexas, muito mais ricas, para serem avaliadas tão superficialmente, sob perspectivas mesquinhas, levianas, pequenas.

Frequentemente pessoas são desvalorizadas, muitas vezes por insignificâncias. É triste pensar que a todo o momento alguém é julgado até mesmo por ações comuns, cotidianas. Por exemplo, esquecer um cumprimento pode acarretar consequências inesperadas, inusitadas e equivocadas.

Isto porque, infelizmente, tem sempre alguém atento aos nossos deslizes, por uma ou outra razão. Alguém mal humorado, alguém com a auto estima em baixa, ou ainda um oportunista de plantão com talento para a manipulação e interesse em detonar com a reputação de alguém. Dificilmente isto aconteceria se as pessoas fossem mais empáticas, tolerantes e questionadoras da maledicência. 

O pior é que, o que acontece no dia a dia das pessoas comuns, acontece em grande escala com pessoas famosas. Se é desagradável o sentimento de estar constantemente sendo avaliado pelo meio social em que circulamos, imagine pela grande população, consumidora de notícias populares e ávida pelas fofocas dos famosos, propagando e opinando nas redes sociais. Isto tem sido desastroso e até trágico para pessoas de todas as idades. 

Talvez se fossem fazer uma enquete pelo país inteiro, descobríssemos que muitíssimas pessoas se percebem desvalorizadas, algumas até desprezadas, talvez porque a intolerância no ser humano seja muito mais presente e escape à  frágil percepção da sociedade individualista, que apenas se identifica no senso comum. 

Claro que o mais importante é o impacto que isso causa na vida da pessoa, no seu emocional. Nem todo mundo é forte e equilibrado o suficiente para tirar isso de letra e seguir com a vida. Por mais que haja receitinhas bem intencionadas, sobre como fazer vista grossa à ignorância e estupidez, somos nós que precisamos trabalhar com nossos demônios, para não sermos tragados por sentimentos mesquinhos e, no final, nos armarmos com os mesmos jogos matreiros que abominamos, sustentando, institucionalizando e difundindo um mal oculto: a insignificância do ser.

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