“We will always have Paris”


Por esses dias, uma turma de adolescentes de diversas nacionalidades, mas todos estudantes de um mesmo colégio no interior de São Paulo, chegaram a Paris. Vindos de uma breve estadia em Londres na companhia de alguns professores, testemunharam, e alguns protagonizaram, episódios que deixariam os pais, no distante Brasil, com os cabelos em pé.

Imaginem 40 adolescentes, com idades entre 14 e 17 anos, descendo na Gare do Nord no centro de Paris. Certamente com a cabeça a leste de todas as advertências dos pais, excitadíssimos com a liberdade oferecida de bandeja, além mar. Tudo é novo e excitante, traduzido em gritinhos, burburinhos e parlapiês sem fim, sobrepondo-se aos chamados tensos dos professores que aquela altura, estavam já com a voz rouca e as olheiras chegando à testa.

Nossos adolescentes seguiram pelo Boulevard de Denain, se lambuzaram nos deliciosos croissants au chocolat... Não importa em que lugar do mundo, um grupo de estrangeiros é sempre um atrativo curioso, e nossos jovens transitando alegremente pelas ruas da cidade luz, talvez tenham acrescido um colorido tupiniquim até mesmo aux rives de la Seine, enquanto embarcavam no batobus.

Quanto à malandragem do lugar logo sentiu o cheiro da oportunidade. Um mulherio de ar respeitável aproximou-se mostrando um caderno, explicando que precisavam de assinaturas para importante petição. Havia um aglomerado de gente em torno da dama de ferro parisiense. A garotada correspondeu educada e, enquanto uns conversavam com as francesas, outros se entretinham a apreciar e fotografar a magestosa tour Eiffel.

Os estudantes terminaram dispersos. Sofie, uma das mais velhas do grupo de brasileiros, escuta atenta a mulher explicando em um inglês carregado de erres o objetivo do abaixo assinado. Num determinado momento, sentiu uma leve pressão no ombro, olha de lado e vê um homem tentando enfiar descaradamente a mão na sua bolsa.

Segurando firmemente as alças com ambas as mãos, Sofie faz um movimento brusco puxando a bolsa e já virando o corpo para se afastar, é quando sente uma mão feminina puxando o querido iPhone que  segurava. A mão começa a afastar-se, seu coração bate forte e então num impulso ela estica o braço e puxa de volta o aparelho da mão estranha, recuperando-o.

Conseguindo finalmente afastar-se do cerco, segue apressada, grudada às suas coisas, desconfiando de todo o mundo em volta e principalmente da mulher que a distraíra com o “papo furado da petição”. A poucos passos dali Sofie vê seu irmão sendo assediado por outra mulher, corre na sua direção e puxa-o pelo braço, ignorando os protestos da francesa.

À noite, exaustos de passeios, caminhadas e visitas, os jovens brasileiros aguardavam o metrô que os levaria ao hotel, quando novo acontecimento lhes perturba a paz. Um rapaz rapa o celular de uma jovem mulher sentada num banco próximo, e sai disparado. A jovem parte no seu encalço. Ambos correm pela estação, seguidos dos olhares atônitos dos estudantes brasileiros que cresceram escutando falar que moravam no país da bandidagem.

Quase alcançando o trombadinha, próximo a uma saída, a jovem tenta segurar a porta que fora empurrada pelo assaltante na sua direção, mas não tem sucesso. A pesada porta prensa sua mão e corta-lhe um dedo. Na cabeça dos jovens ficam os gritos sinistros da mulher e a sua imagem agarrada à mão ensanguentada.
Os jovens chegam finalmente ao hotel, Sofie está cansada e decepcionada com a famosa e histórica Paris. Liga para os pais e desanda num choro nervoso. Do outro lado da linha o pai a leva a falar do dia e a jovem percebe que também falou de flores. Afinal é Paris, com sua história de revolução, guerra e sobrevivência -, a cidade iluminada.

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