Qual a sua missão (2)? – O direito de ser feliz

"A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é potencialmente.'Erich Fromm

VOCE-E-O-UNIVERSONo artigo anterior falei que todos recebemos em algum momento de nossa caminhada um chamado para representarmos o verdadeiro papel para o qual nos preparamos para esta vida. Quantas vezes encontramos pessoas perdidas pelo mundo, seguindo pela vida ao sabor dos ventos, deixando-se levar pelo curso dos acontecimentos, muitas entediadas, esperando nada, amargas e amarradas a uma rotina diária?!

Por outro lado, conhecemos pessoas que desde muito cedo sentem um entusiasmo pela vida. Há como que uma magia em torno delas, que se expressa no carisma, um brilho como se vivessem direto num palco, e à sua volta uma platéia hipnotizada pelo seu magnetismo garantindo um sucesso atrás do outro, são aquelas pessoas que apontamos como nascidas com uma estrela.

Talvez o nosso olhar sobre estas pessoas seja superficial, talvez subestimemos o processo inteiro. Um olhar mais cuidadoso nos revelaria que há sempre um quinhão de sacrifício. A diferença está no fato de aquela pessoa ter encontrado o seu caminho, ela está plenamente feliz e quando tal acontece o esforço fica embutido no prazer, criando a ilusão de ausência de sacrifício.

A lógica é matemática. Se você gosta do que faz, pode até sentir cansaço físico por conta da dedicação, mas o deleite de estar no lugar certo, fazendo exatamente aquilo que gosta, sentindo-se útil à sociedade e com a certeza de que foi enviado para desempenhar aquele papel, todo e qualquer esforço fica como que diluído, tornando-se a alegria e o prazer uma constante, criando em torno uma aura profícua em boas energias. O plantio e a colheita em perfeita harmonia.

Na maioria das vezes, a pessoa sequer procurou aquele caminho, ele foi se revelando timidamente, indiretamente ou ainda inesperadamente, por vezes até, como conseqüência de uma tragédia, ou um episódio dramático pessoal. Foi o caso do seu Mário, um massagista cego que até os 26 anos era um jovem saudável, satisfeito com seu emprego estável de contador, uma vida que se avizinhava sem contratempos.
Acometido pelo glaucoma, perdeu a visão. Sua primeira reação foi de revolta, mas logo se daria conta que se não reagisse viraria um peso morto para a família, pior, um indivíduo amargo e mal humorado até o final dos dias. Sem qualquer vocação para vítima optou seguir produtivo, reaprendendo a viver sob a nova condição. Como virou massagista, ele não se lembra, mas tem hoje absoluta certeza que estava predestinado à nova vida.
Sentindo-se mais útil do que nunca, a cegueira chega a ser uma vantagem, já que portadores de deficiências acabam desenvolvendo outras habilidades. No seu caso ele sente o campo magnético do outro corpo e seu trabalho de relaxar a tensão das pessoas que o procuram é tão completo que ele consegue até detectar órgãos doentes e males ocultos, aconselhando as pessoas a procurarem um médico. Quando a pessoa retorna agradecida, ele sente-se recompensado. 

Recentemente, escutei a lendária Brigite Bardot dizer que nunca escolheu ser modelo, nem atriz, mas sempre foi uma defensora fervorosa dos animais. Muito tempo depois de ter abandonado a sua carreira, deu-se conta que foi empurrada para o estrelato para criar condições que lhe permitiram desempenhar o trabalho mais importante de sua vida, sendo esta a sua real missão, a luta pelos direitos dos animais.

Audrey Hepburn disse algo parecido sobre seu trabalho na UNICEF, através do qual ela viajava para locais remotos encontrando-se com populações famintas que permaneceriam ignoradas não fosse a sua imagem fotografada em meio a essa tristeza. Sem a sua fama de estrela de sucesso, nunca conseguiria angariar fundos, ser recebida por personalidades importantes da política e levar ao conhecimento do mundo as condições precárias em que viviam aquelas pessoas. Audrey chegou a dizer que sentia falta do cinema, mas percebeu que seu papel mais importante era o que desempenhava na UNICEF.

Seja qual for a atividade, ou a importância da pessoa na sociedade, se comum ou famosa, há sempre uma carga de sacrifício. Ana Paula Arósio entrou acidentalmente no rol da fama. Uma olheira de uma agência de modelos famosa deu de caras com ela em situação e local bastante comuns: fazendo compras em um supermercado. Sorte?
Então uma menina, mas já dona de uma beleza deslumbrante, na época Ana Paula só pensava em brincadeira. Teria a história sido diferente se ela e os pais não tivessem dado importância ao cartão de visitas recebido e ao convite para aparecer na agência? Nunca saberemos! Assim como não sabemos se seu trabalho como atriz é a sua missão mais importante. O tempo o dirá. Certo é que Ana Paula teve sua cota de sacrifício, trabalho e muito aprendizado para chegar onde chegou.

Se para uns o destino parece antecipar-se batendo à porta, para outros é como se não existisse. Certa professora passou boa parte da vida entrando e desistindo de cursos, até que um dia, finalmente, encontrou seu caminho. No dia da formatura, sentia-se a mãe dos colegas, tal a diferença de idade. Chegou a ser alvo de piadas dos professores que a viram pular de curso em curso, ano após ano. Embora ela conte esta passagem com pitadas de humor, foi uma fase sofrida aquela de sentir-se perdida, achando-se uma inútil que viera ao mundo sem qualquer habilidade.

Há realmente um encantamento quando o destino se revela. Um adolescente muito inteligente, possuidor de várias habilidades e uma cultura impressionante para a sua idade, encontrando-se indeciso sobre a profissão a escolher, manteve-se durante muito tempo dividido entre uma carreira política e o campo das artes, finalmente já tendo tomado sua decisão, ele justificou-se com uma segurança e traquejo de fazer inveja a muito adulto: “Minha intenção é marcar a vida das pessoas, fazer a diferença, e isso eu vou conseguir mais facilmente, mas de forma mais abrangente, através das artes.

Não há uma idade certa para acontecer a revelação, o importante é seguir com a certeza de que há um lugar no mundo para todos e percebermos que nada é definitivo, nem fácil para ninguém, que não há privilegiados, para que não nos sintamos preteridos por forças ocultas, malévolas ou divinas. E quando formos atacados por uma pontinha de inveja, ao olharmos fotos de celebridades, estendamos nosso olhar além da imagem.

A fama que tanto seduz o imaginário coletivo tem um lado bastante sombrio, sendo, sem dúvida, um caminho cheio de armadilhas. Já vimos histórias de famosos que enfrentam dificuldades para circularem nesse mundo onde há sempre olhares atentos e curiosos à espreita, um mundo de fofoca, inveja, críticas, cobranças que nós conhecemos em uma escala mínima, mas que se ampliado a extensões globais, pode ser muito assustador.

Quantos artistas não caem no mundo dos vícios, indivíduos perdidos sem saber como agir, diante da curiosidade e cobrança de seus atos. Imagine-se por um momento no lugar de uma celebridade, exposta ao olhar e julgamento de todo o tipo de mente. Ver sua vida esmiuçada em todo o tipo de mídia, ler sobre a sua própria vida, fatos e, pior, mentiras criadas por maus profissionais ou oportunistas de plantão; descobrir-se em fotos tiradas em momentos de privacidade, estampadas com o intuito de alimentar o imaginário sombrio de leitores curiosos, fãs ensandecidos, fanáticos religiosos e toda a sorte de indivíduos e entidades que compõem uma sociedade. Entende o drama e o desafio destas pessoas? Ainda sente inveja? Trocaria realmente de lugar com alguma delas?

São exemplos que mostram a necessidade de um preparo, um conhecimento, que emprestarão a firmeza de caráter, as armas necessárias para enfrentar os desafios, apagarão as incertezas e lhe lembrarão sempre que você está no caminho certo, que tudo faz parte da sua missão.

Circular pela vida com a tranqüilidade de quem sabe que há algo de bom destinado a todos é conquista de umas poucas almas. Para estas o encontro com o seu destino pode ser bem cedo, mas tem também situações que a revelação acontece logo porque o indivíduo quis dar um passo maior que a perna. Os planos se revelariam antecipadamente para que os tropeços mostrem à pessoa que ela não está preparada, oferecendo assim a oportunidade, nesta mesma vida, de adquirir o conhecimento necessário para honrar seus compromissos.

Há ainda um outro tipo de indivíduo, possuidor de uma consciência capenga, que não sente força para grandes voos. Ele vai devagar em suas escolhas. São aquelas pessoas que podem nascer em famílias ricas, e desde muito cedo já se identificam, elas mesmas, como amantes do conforto, escolhem a dedo o marido, ou esposa, que lhes proporcionará uma vida fácil, que pode ser alguém até mais evoluído espiritualmente. Sem propósitos maiores que não o de aproveitarem as facilidades do dinheiro, sua mente estreita entretém-se feliz, com futilidades, até o final da vida.

Luísa era ainda criança, quando se viu fascinada com uma vizinha elegante, de porte altivo que atraia a atenção de homens e mulheres. A menina decidiu que seria igual, teria um marido rico, dirigiria bons carros, usaria roupas deslumbrantes e viveria o prazer de ver as pessoas curvarem-se solícitas à sua presença, abrindo-lhe as portas por onde passasse.
Quase chegando aos 20 anos, conheceu dois possíveis pretendentes. Ambos de famílias abastadas, sendo que um já estava com carreira definida na política. Ela bem que se insinuou para este último, mas percebendo a fila enorme, achou melhor garantir o pássaro já quase preso na sua gaiola. Em poucos meses estava grávida. Ela tem hoje tudo o que sonhou e muito mais e é absolutamente feliz. Isso não quer dizer que não esteja acumulando conhecimento, talvez ela esteja aprendendo a valorizar os laços familiares, através do casamento e em seu projeto para a próxima vida, a riqueza não precise ser imprescindível.

Não importa onde você está e em que condições, nesta ou em outra vida as escolhas serão sempre suas. É um privilégio de cada ser. Por isso há o tempo certo para as revelações, para os acontecimentos, toda uma prévia para descobrir e receber sua missão. Quando está na hora de mudar, forças misteriosas dentro de nós, ou a voz de Deus, a divina providência, dê o nome que melhor o satisfaz, o avisam, e se você ignorar ou não entender, certamente a vida o empurrará para o caminho certo, nem que seja às custas de uma tragédia. Como já mencionado em outros posts, há uma ordem no caos.

Claro que, independentemente de qualquer coisa as pessoas infelizes, que vivem em busca de respostas para suas inquietações, podem recorrer a mecanismos que as guiem no seu caminho. Há profissionais de várias áreas com conhecimento e experiência suficientes para ajudar-nos a entender e descobrir nosso papel no mundo, a encontrar as trilhas e a desbravar caminhos. Carla Bruni que se confessou perdida em certo momento da sua vida, apontou a terapia como um caminho seguro e maravilhoso para descobrir seu ser, seu lugar, sua missão e seu direito à felicidade.

Na maioria das vezes o caminho é só um: aprender a eliminar conceitos errôneos, paradigmas ultrapassados, dogmas religiosos contraditórios, valores culturais brutos, obrigações e compromissos familiares e sociais imaginários, que nos desviam do foco real, obstruem nossa compreensão, embrutecem nosso ser, aniquilam nossa alma e roubam nossas oportunidades, o direito de ser simplesmente feliz.

Imagem do blog "Atelier G'Avila"
Mecanismos que o podem ajudar a encontrar sua missão na vida:
Você sabe qual é sua missão nesta vida? (Roberto Shinyashiki)
A importância de encontrar o significado de sua vida (Missão de vida)
Existe um lugar para todos?
Qual é a sua MISSÃO DE VIDA?
Qual é a minha missão de vida?
Ser feliz é estar em sintonia com sua Missão de Vida
Como posso descobrir a minha missão no mundo?

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