Casamento: sobrevivendo ao tempo

"E assim descansam os dois amantes um ao lado do outro.
A quietude paira sobre sua morada; anjos serenos, seus afins,
olham-nos do espaço. E que momento feliz aquele
em que, um dia, despertarão juntos!"
(Epílogo de "Afinidades Eletivas, Goethe")

cabanadoamor Em qualquer cultura o casamento representa um status social. Individualmente, aquele passo é um novo estágio no ciclo da vida. Sob a perspectiva atual, pode-se dizer que o casamento é uma grande aventura, já que em tempos modernos o casal impera em pé de igualdade. O desafio de tornar a união duradoura é trabalho constante, de equipe. Para além da estética do romantismo existe a realidade crua e impositiva do dia a dia, que o casal precisa aprender a administrar.
Amor tem lei?
Vamos começar definindo o que é o casamento/matrimônio. A definição do dicionário: “Contrato de união ou vínculo entre duas pessoas que institui deveres conjugais”. Entenda-se que os deveres conjugais (fidelidade recíproca, vida em comum no domicílio conjugal, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e consideração mútuos) são conceituados, estabelecidos e resguardados pelo Código Civil. Um palavreado nada romântico para uma relação amorosa. Devemos, no entanto lembrar que existe uma legislação para relações familiares que fazem parte do direito de família e a lei é, por preceito, mecanismo de organização de uma sociedade.
O caminho do meio
Há muitos anos li uma definição de casamento que considero magistral. Quem nos agraciatao é Joseph Campbell: “Casamento é uma relação. Quando vocês se sacrificam no casamento, o sacrifício não é feito em nome de um ou de outro, mas em nome da unidade na relação. A imagem chinesa do Tao, com a treva e a luz interagindo, mostra a relação entre yang e yin, masculino e feminino, e é isso que vem a ser o casamento. É nisso que vocês se tornam quando se casam. Você deixa de ser aquele um, solitário; sua identidade passa a estar na relação. O casamento não é um simples caso de amor, é uma provação, e a provação é o sacrifício do ego em benefício da relação por meio da qual dois se tornam um.”
Casar e conjugar
Duas personalidades, com sonhos, desejos, valores, projetos, visões de mundo e uma porção de outras particularidades distintas, mas que, no entanto não são importantes quando prevalece o objetivo puro e simples de fazer a união durar. Dois seres dispostos a transformar duas identidades numa só identidade conjugal, simbolizado, durante o cerimonial, com o casal bebendo no mesmo copo, que seguidamente é esmagado com o pé, no casamento judaico, significando o rompimento com o passado. Lembrando que no Brasil até a certidão de nascimento é substituída pela de casamento.
E aqui se inicia a provação que Campbell fala, a formação da identidade conjugal, cabendo ao casal encontrar uma forma de conjugar interesses para a construção de uma nova história de vida.
Mudanças sociais e culturais na sociedade nas últimas décadas tornaram a vida conjugal mais difícil. Permanecendo a natureza humana a mesma, houve um recrudescer do ego. Os papeis masculino e feminino, que antigamente eram bem definidos, deram lugar à divisão de despesas e tarefas domésticas.
A luta pelo autocontrole em prol da harmonia conjugal exige muito mais que mera boa vontade. E como as leis humanas são mutáveis, naturalmente o conceito divino do casamento foi morrendo à proporção que a aceitação do divórcio foi se multiplicando.
Se houve um tempo em que o amor e uma cabana era suficiente para correr ao altar, a visão de um tanquinho precário cheio de fraldas sujas, sobrepôs-se à imagem idílica e hoje baseamos nossas expectativas em argumentos muito mais realistas. Fala-se muito em afinidades de personalidade.
Crise individual = Crise conjugal
Finalmente aceitamos, sem culpas, que a luta perene com o ego é causa perdida numa sociedade tecnológica e consumista de complexidade crescente que não mais se identifica com modelos sociais tradicionais. Desta forma inúmeras circunstâncias potencializam os riscos de conflito na relação.
A mulher, assim como o homem, desempenha hoje diversos papéis na sociedade, e além disso, é exigente com seus desejos e prazeres sexuais, fatos que recaem continuamente na disputa dos direitos e deveres de cada parte. E não pára por aí.
A lei urbana da competição por um lugar ao sol é uma odisséia constante em cenário onde a pulsão roda a mil. Não há como desligar o ego no espaço do lar, e acordá-lo todo o dia, quando de lá se sai. O emocional que nos mantém sãos e fortes nessa selva urbana, pode também deixar-nos vulneráveis a crises de questionamentos individuais que fragilizam a relação conjugal.
Com tudo isso, um mix de experiência e valores tradicionais e modernos levou a uma confluência de idéias, gerando uma diversidade e aceitação de modelos de famílias.
Para o melhor e para o pior
Curiosamente quando olhamos os números de divórcios no mundo, percebe-se que estes não interferem na incidência de casamentos, isto porque, assim dizem os especialistas, temos um componente psíquico e um fisiológico que mantém em nós o desejo de casar e acreditar que o nosso casamento será para sempre.
Para o melhor e o pior enquanto existir o amor que não é propriedade, mas partilha. Descobrir e partilhar também afinidades e experiências, sonhos e desejos, respeito, compreensão, sentimentos, carências e conflitos, cuidados, participação, cumplicidade, amizade e dedicação. Partilhar enfim a vida enquanto os dois escutarem a mesma melodia, como falou o poeta “que seja infinito enquanto dure”.

Fontes:
Visão cômica do casamento

Comentários

  1. Oi Carla...
    Muito bom esse post!!
    Me sinto realizada com o companheiro que escolhi para formar a minha família, mas não se pode negar que tem horas em que sonhamos com a total liberdade....afff, ter que discutir tudo, várias e várias vezes, cansa pra caramba!! kkkkk
    abs
    Carla

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  2. Olá querida amiga Carla,

    Excelente texto. Amei!

    "O casamento não é um simples caso de amor, é uma provação, e a provação é o sacrifício do ego em benefício da relação por meio da qual dois se tornam um.”

    Essa definição de casamento é perfeita e retrata o real significado da união conjugal.

    "A importância em manter essa união permanentemente vem do fato de que os votos não envolvem apenas um homem e uma mulher, mas incluem o próprio Pai Celestial, que abençoa e consagra o casamento. Alem disso, o compromisso matrimonial tem como modelo a aliança de Cristo com sua Igreja.(Efésios 5: 21- 33)"

    Parabéns pela postagem!
    Carinhoso e fraterno abraço,
    Lilian

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  3. Carla,
    Obrigado pela visita e palavras no meu blog.

    Abraços,

    ResponderExcluir
  4. Carla, parabéns pelos textos!
    A concepção do casamento modificou bastante...e que ele “seja infinito enquanto dure”.

    Obrigada pela força no meu blogger Mary Pop.

    Um grande abraço.
    Rosemary Quintas

    ResponderExcluir
  5. Carla, parabéns pelos textos!
    A concepção do casamento modificou bastante...e que ele “seja infinito enquanto dure”.

    Obrigada pela força no meu blogger Mary Pop.

    Um grande abraço.
    Rosemary Quintas

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