Por trás do preconceito

"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." Albert Einstein 

Preconceito está ligado a pré-julgamento, intolerância e discriminação. O pré-conceito pode, em determinadas situações, ser aceitável, porque diante do desconhecido a mente, como uma defesa, forma um juízo provisório da situação, do objeto, ou da pessoa, que gerou o desconforto, o medo. Já a intolerância e a discriminação podem mascarar algo mais profundo:
narcisismo expresso pelo etnocentrismo, insegurança, ressentimento e inveja, individual ou coletivo. Além disso, a discriminação é usada como mecanismo de castração de grupos de cor, gênero, etnia, religioso e econômico. De forma bem objetiva, o preconceito é, historicamente, uma arma de manipulação política.

Registros históricos e diários da intolerância ao diferente é o que não faltam em muitos locais do planeta. Definitivamente o preconceito está institucionalizado na sociedade. Embora esteja mais associado à cor da pele, por haver entidades étnicas organizadas com a função de combatê-lo, promovendo debates constantes na sociedade, qualquer pessoa pode contar experiências pessoais de preconceito. Basta alguém estar em uma comunidade diferente, uma minoria atrair a atenção por alguma particularidade ou um único indivíduo destacar-se por alguma razão, para ativar o preconceito.

Pode-se dizer que as escolas são um microcosmo do que acontece em larga escala. Isto porque crianças e adolescentes, além de incorporarem comportamentos e crenças do meio em que são criados, processo normal da criação, tendem a descarregar nos colegas as intensas emoções reprimidas. Quem não presenciou ou viveu na própria pele a experiência de ser preterido por alguma razão, ou simplesmente por pertencer a algum grupo tipidificado? Rico ou pobre, loira ou morena, "burro" ou inteligente, feio ou bonito, magro ou gordo, alto ou baixo, português, judeu, alemão, baiano, crente, gay, caipira, deficiente e até famoso?

Tenho no entanto a crença, bem pessoal,  de que uma das maiores bizarrices da sociedade atual é a discriminação à mulher. Além de antiqüíssima é considerado “o crime encoberto mais praticado no mundo”. A história da humanidade mostra que em nome da cultura e da religião a participação da mulher na sociedade tem sido restringida em diversos setores da vida social. Ainda ouvimos falar, com uma constância revoltante, de mutilações genitais, estupros constantes, violência doméstica, baixa participação no poder, menores salários e oportunidades profissionais, além do pouco caso das autoridades e da própria sociedade, que ao se anular da responsabilidade, termina compactuando com a perpetuação da cultura da violência.

Mas o preconceito pode também ser auto-descriminatório, como as pessoas que têm baixa auto-estima e por alguma razão sentem-se inferiores às outras: mais feias, mais pobres, mais gordas, mais “burras”, etc. Muitos destes indivíduos carregam a vida inteira problemas de auto-aceitação que podem manifestar de forma auto-destrutiva ou com agressividade para com os outros ou das duas formas. Talvez a auto-descriminação seja mais agressiva e tenha um efeito mais devastador do que o sofrido externamente. Um indivíduo que tem uma postura de inferioridade tem dificuldade em crescer profissional, econômica e socialmente, já que seus sentimentos mórbidos de inferioridade o tornam apático diante das oportunidades e desafios. O pior é que ele tende a passar para a família os seus complexos, gerando um ciclo constante e indefinido.

Tenho consciência que certos temas são recorrentes neste blog, como o apelo ao uso da psicologia como um serviço social e da filosofia na educação, em benefício de uma sociedade mais sã e mais evoluída. É inegável que muitos problemas sociais, às expensas da cultura e religião, têm seu cerne na obscuridade e complexidade da mente humana, daí sociedades formadas com base em conceitos morais equivocados.

Penoso é concluir que a nossa evolução é de uma disparidade assombrosa: se por um lado vivemos em uma era tecnológica soberba, por outro permanecemos à mercê das leis primitivas da natureza, tal como predadores selvagens e esfomeados, atacamos os mais fracos. No lugar da moca usamos discursos matreiros, mas sempre a brutalidade insana.

REFLEXÕES SOBRE PRECONCEITO – EM BUSCA DE RELAÇÕES MAIS HUMANAS
Ilustração acima do Site: Rumo à tolerância
Dica de filmes: Crash, no limite (de Paul Haggis - preconceito no cotidiano) / A Vila (The Village, M. Night Shyamalan) (medo e manipulação como forma de organizar e reprimir uma sociedade) / Dogville e Manderlay (2 filmes que falam da natureza humana, mas com objetivo de questionar a sociedade americana e sua política protecionista estendida ao mundo, que na verdade escondem a dificuldade de lidarem com problemas consagrados mas que são maiores que a América (os olhos americanos) são um problema de e da humanidade. Um projeto pessoal do diretor dinamarquês Lars Von Trier para uma trilogia, Dogville é sobre a manipulação, Manderley foca o preconceito, com base na escravidão e racismo, e o terceiro abordará a injustiça. Interessante saber que este diretor consagrado gosta de personagens femininos como peças chave de suas narrativas. / Documentário: A cor do medo (8 pessoas de diferentes etnias discutem o preconceito com base em suas próprias experiências) - Muito bons, reveladores e que levam à reflexão.
> 50 Anos de Filmes - excelente site de cinema que lista e comenta uma série de filmes que abordam as diferentes faces do preconceito.
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