Assim na terra como no céu


"Quanto mais profundas forem as 'camadas' da psique, mais perdem sua originalidade individual. Quanto mais profundas, mais se aproximam dos sistemas funcionais autônomos, mais coletivos se tornam, e acabam por universalizar-se e extinguir-se na materialidade do corpo, isto é, nos corpos químicos. O carbono do corpo humano é simplesmente carbono; no mais profundo de si mesma, a psique é o Universo."  Carl Jung

A todo o momento recebemos mensagens subliminares do ambiente que nos cerca, seja da televisão, do livro, filme, o quadro comprado, amizades que fazemos, escolhas, cenas que testemunhamos no dia a dia, vidas que acompanhamos, nossa própria experiência. Cada um corresponde ao estímulo externo em função de seu repertório psicológico, de seu sistema de valores, de sua interpretação subjetiva. Por vezes uma obra completa pode não nos acrescentar nada, e de repente simples
fragmentos... uma frase, um diálogo, uma cena ou um fato testemunhado e algo explode dentro de nós.

Rafael chegou do colégio e contou à mãe um episódio que o impressionou. Uma colega vendia doces na escola. Alguns garotos pegavam os doces com a promessa de pagar depois, coisa que nunca acontecia. Naquele dia, Rafael não se conteve e perguntou porque ela não recusava os doces aos caloteiros. A garota respondeu tranquilamente que aquele era seu jeito de ser. “Porque criar caso em um mundo onde já tem tanta briga?”.

Cenas comuns e desapercebidas do dia a dia que podem fazer diferença para uns poucos. Talvez apenas uma pessoa tenha sido tocada pelas palavras da jovem doceira, talvez um número bem maior prefira seguir comendo doces “grátis” e comentar a “burrice” da colega. Acontece com freqüência e pouco paramos para pensar em como somos tocados pela vida e experiências de terceiros e como nós mesmos podemos marcar a vida de alguém. O momento e a natureza do estímulo, se bom ou mau, é determinado pelo nosso inconsciente.

Ao estímulo externo corresponde uma interligação de idéias, pensamentos e uma alquimia de sentimentos que nossa mente resgata no reservatório de memórias e experiências acumuladas, processa rapidamente e acresce ao arquivo mais uma vivência. São afinidades que se entrelaçam e nos levam a atos e escolhas eletivas que se refletem em tudo em nossa vida e na maioria das vezes de forma tão obscura, que sequer percebemos. Seguimos ignorantes do próprio eu até que algo impactante nos exalta o pensamento: “Como pude fazer tal coisa a fulano?” ou “Nossa, não me sabia capaz de tal proeza!” É quando nos damos conta de que portamos muito mais do que transparecemos, até para nós mesmos, e isso pode ser assustador, sobretudo quando nos chocamos com nossos próprios atos.

Alguns poderão, nessa hora, tomar profunda consciência do inconsciente, esse eterno desconhecido nunca desvendado. Certeza mesmo é que não temos total controle nem dos próprios atos e a ironia maior é que o misterioso em nós permanece escondido. Conhecedores então do buraco negro vigente em nosso interior, desse desconhecido que é o nosso próprio ser, desaguamos na eterna questão: “Quem somos nós?” E nas tantas respostas que podem existir e nos enlouquecer de tanto querer saber, nos percebermos pequenos e misteriosos universos, partes integrantes de outro maior. É quando o olhar se distancia do pequeno mundo em que insistimos em permanecer e se abre para a amplitude do Universo grandioso ao qual nos assemelhamos, e o próximo grau do questionamento pode ser:

- Que importância temos nós nesse imenso Universo, nessa hierarquia de planetas, astros e estrelas? - Talvez a compreensão, a humildade e o respeito que nos faltou em outros momentos, surjam finalmente diante do infinito mar de incertezas e possibilidades; assim como nossa reverência aos tantos mestres e sábios do passado e do presente. Talvez também o breve entendimento nos empreste a serenidade necessária para seguir sem medo pela estrada da vida que nos espera.

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Comentários

  1. Obrigado pela generosidade de ter postado um comentário no meu blog e pela sensibilidade e inteligência do teor do mesmo.
    Volte sempre.
    Adorei teu blog.
    Beijo

    James Pizarro

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  2. Muito obrigada! Adoro quando meus textos recebem comentários de blogueiros que admiro e acompanho.

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